Olá, meu povo! Tudo bem com vocês? Espero que sim. Tudo que é notícia e tenha interesse público, estou aqui para conversar com vocês. Nos últimos dias, começou a circular nas redes sociais uma tal de “Internet Grátis no Brasil”, e isso acabou gerando uma certa empolgação nos usuários de internet no país. Espere aí… como assim, internet grátis?

Veja só: segundo os dados, o acesso à internet no mundo está assim:

Global

  • Em início de 2025, cerca de 5,56 bilhões de pessoas utilizam a internet, o que representa 67,9% da população mundial Wikipedia+4DataReportal – Global Digital Insights+4Wikipedia+4.

  • Do total de tráfego web global em meados de 2025:

    • 64,35% vêm de dispositivos móveis (smartphones e tablets) Soax.

  • 96% a 96,3% dos usuários de internet acessam através de smartphones em alguma forma TS2 Space+1Wikipedia+1.

  • O tráfego via desktop (rede fixa ou Wi‑Fi domiciliar/empresarial) corresponde a cerca de 35–36% do total MobiLoud.


🇧🇷 Brasil

  • No início de 2025, havia 183 milhões de usuários de internet, o que corresponde a 86,2% da população brasileira Exploding Topics+4DataReportal – Global Digital Insights+4TS2 Space+4.

  • 217 milhões de conexões móveis estavam ativas, equivalendo a 102% da população, com 97,1% dessas conexões classificadas como de banda larga móvel (3G/4G/5G) DataReportal – Global Digital Insights+1Wikipedia+1.

  • Em 2023, os usuários acessavam a internet pelos seguintes dispositivos:

    • 55,46% via smartphone móvel

    • 43,81% via desktop ou conexão fixa (Wi‑Fi ou cabo)

    • 0,60% via tablet e 0,13% via consoles de jogos

  • Um estudo de 2023 indicou que 98,8% dos usuários acessavam a internet por dispositivos móveis, sinalizando dependência quase total ao smartphone TS2 Space.


📊 Comparativo Brasil × Mundo

Região Penetração Internet Acesso por Móvel Acesso por Fixo/Desktop
Mundo ~67,9% ~64% do tráfego ~36% do tráfego
Brasil ~86,2% 55,5% dos usuários 43,8% dos usuários

A iniciativa de internet via Direct to Cell, proposta pela empresa Starlink, não oferecerá internet gratuita no Brasil e nem tem essa proposta. Na verdade, o que a empresa pretende é implantar uma nova forma de expansão do acesso à internet, especialmente em regiões que ainda não são atendidas, incluindo áreas de difícil acesso. O sistema Direct to Cell já está disponível no Brasil, mas depende das operadoras locais. Essas operadoras, por sua vez, irão criar pacotes e planos específicos para disponibilizar o serviço — ou seja, não será gratuito.

Confira em detalhe sobre o direct to cell.

“Direct to Cell” (ou D2C) é uma tecnologia emergente que permite que satélites se comuniquem diretamente com celulares comuns, sem a necessidade de torres de celular. Ela está revolucionando o acesso à internet e à conectividade em áreas remotas. Veja um panorama atualizado:


🌍 O que é “Direct to Cell”?

É a transmissão direta de dados de satélites para celulares padrão, sem a necessidade de:

  • Estações terrestres intermediárias

  • Alterações no hardware dos telefones

  • Cobertura por torres tradicionais

É diferente de “internet via satélite” (como Starlink), pois usa o próprio celular comum (4G/5G) como receptor.


🛰️ Quem está desenvolvendo?

🔹 SpaceX (Starlink + T-Mobile)

  • Projeto oficial: “Starlink Direct to Cell”

  • Começou testes em 2024, com lançamento comercial previsto para 2025.

  • Usará satélites Starlink de segunda geração com antenas especiais para conexão LTE/4G.

  • A ideia é permitir:

    • Mensagens de texto (2025)

    • Chamadas de voz e dados (até 2026)

🔹 AST SpaceMobile

  • Parceria com Vodafone, AT&T e Rakuten.

  • Conseguiu fazer chamadas de voz via satélite para celulares 4G comuns, sem alterações no aparelho.

  • Planeja cobertura global entre 2025 e 2026.

🔹 Lynk Global

  • Já tem autorização da FCC (EUA) e está em testes em mais de 20 países.

  • Foco em mensagens SMS de emergência e conectividade em áreas sem cobertura.


📱 Como funciona no celular?

  • Utiliza frequências de rede celular comuns (ex: LTE/4G Bandas 1, 3, 5, 7…).

  • O satélite atua como uma torre de celular no céu.

  • O usuário vê no celular um sinal normal de rede, como “Starlink LTE”.


📊 Impacto global esperado

  • Mais de 2,5 bilhões de pessoas vivem em áreas com sinal fraco ou inexistente.

  • Com D2C, áreas rurais, florestas, desertos e oceanos terão acesso básico a:

    • SMS

    • Dados de emergência

    • Chamadas e internet (em versões futuras)


🇧🇷 E no Brasil?

  • Empresas como Claro e TIM já demonstraram interesse.

  • A Anatel estuda regulamentar a tecnologia para permitir uso comercial até 2026.

  • O norte e nordeste do país seriam grandes beneficiários devido à baixa cobertura em áreas extensas e remotas.

A SpaceX, por meio de sua subsidiária Starlink, apresentou ao mundo uma visão ambiciosa: a erradicação definitiva das “zonas mortas” de cobertura celular. Batizada de “Direct to Cell” (D2C), a tecnologia promete fornecer acesso ubíquo a mensagens de texto, chamadas de voz e dados em qualquer lugar em terra, lagos ou águas costeiras, conectando smartphones comuns diretamente a uma constelação de satélites especializados. Esta iniciativa representa um salto tecnológico com o potencial de redefinir o conceito de conectividade universal.

No entanto, a disseminação de informações sobre este serviço, especialmente no Brasil, foi acompanhada por uma série de equívocos. É fundamental esclarecer, desde o início, que o serviço não se chama “Direct to Call” e, mais importante, não é inerentemente gratuito. O modelo de negócio, já em prática em mercados como os Estados Unidos através da parceria com a T-Mobile, envolve a inclusão do serviço em planos de telefonia móvel premium ou a sua comercialização como um complemento pago, com um custo mensal adicional. A percepção de gratuidade surgiu da estratégia da T-Mobile de oferecer o benefício sem custo extra para seus clientes de maior valor, uma tática de fidelização e diferenciação de mercado.

A tese central deste relatório é desvendar o paradoxo da ausência do serviço Direct to Cell da Starlink no Brasil. Embora a tecnologia esteja funcional e em expansão comercial em outros países e o Brasil, com suas vastas áreas continentais desprovidas de cobertura celular, represente um dos mercados mais promissores do mundo para tal solução , o serviço permanece indisponível. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) confirma que, até o momento, não recebeu qualquer solicitação de licenciamento ou de teste para a tecnologia D2C da Starlink no país.

Este cenário revela que o obstáculo à implementação não reside em uma limitação tecnológica ou na falta de um mercado endereçável. Pelo contrário, a barreira é um complexo impasse de natureza comercial e regulatória. A chegada do Direct to Cell ao Brasil está intrinsecamente condicionada a dois fatores interdependentes: a celebração de parcerias estratégicas com as operadoras de telefonia móvel que atuam no país (Vivo, Claro e TIM) e a subsequente navegação por um arcabouço regulatório específico, orquestrado e supervisionado pela Anatel. Este relatório se propõe a analisar em profundidade cada uma dessas dimensões, explicando a tecnologia, seu modelo de negócios, o cenário regulatório brasileiro, a arena competitiva e o potencial impacto socioeconômico de sua eventual implementação.

Desvendando a Tecnologia Direct to Cell: Como a SpaceX Planeja Conectar seu Celular a Partir da Órbita

A tecnologia Direct to Cell da Starlink representa uma mudança de paradigma na forma como os dispositivos móveis se conectam a redes. Em vez de depender exclusivamente de uma infraestrutura terrestre de torres de celular, o sistema utiliza satélites em Órbita Terrestre Baixa (LEO, na sigla em inglês) como intermediários, funcionando, na prática, como “torres de celular no espaço”.

O Conceito Revolucionário: “Torre de Celular no Espaço”

O coração da tecnologia D2C reside nos satélites de segunda geração (Gen2) da Starlink, que são especificamente projetados para essa função. Operando em LEO, a uma altitude de aproximadamente 550 km, esses satélites garantem uma latência significativamente menor — em torno de 25 ms — em comparação com os satélites geoestacionários tradicionais, que orbitam a mais de 35.000 km e apresentam latências superiores a 600 ms.

Cada um desses satélites D2C é equipado com um modem eNodeB avançado a bordo. O eNodeB (Evolved Node B) é o elemento de hardware em uma rede LTE que se comunica diretamente com os dispositivos móveis. Ao integrar essa capacidade no próprio satélite, a Starlink permite que um smartphone no solo se conecte a ele como se estivesse se conectando a uma torre de celular convencional.

Para superar os imensos desafios de conectar um dispositivo de baixa potência como um celular a um satélite a centenas de quilômetros de distância, a SpaceX desenvolveu uma engenharia de ponta. Os satélites utilizam antenas de phased array de alta sensibilidade e grande porte, silício customizado e algoritmos de software complexos. Essa combinação permite superar obstáculos técnicos formidáveis, como:

  • Compensação do Efeito Doppler: Os satélites se movem a dezenas de milhares de quilômetros por hora em relação a um usuário na Terra, o que causa uma distorção na frequência do sinal (efeito Doppler). O software do sistema precisa compensar ativamente essa distorção para manter uma conexão estável.
  • Latência e Atrasos de Tempo: A distância entre o telefone e o satélite introduz atrasos que devem ser gerenciados para que a comunicação funcione dentro dos padrões LTE.
  • Handoffs Contínuos: Como os satélites estão em constante movimento, o telefone de um usuário precisa ser transferido de forma transparente e contínua de um satélite que está saindo de seu campo de visão para o próximo que está entrando, um processo conhecido como handoff.

Uma vez que o sinal do celular chega ao satélite D2C, ele é transmitido para o restante da constelação Starlink através de links de laser óptico inter-satélites, formando uma malha de conectividade global no espaço antes de descer para um gateway terrestre conectado à internet e à rede da operadora parceira.

Compatibilidade Universal: O Pilar da Adoção em Massa

Um dos aspectos mais engenhosos e cruciais para a viabilidade comercial do Direct to Cell é sua compatibilidade com os dispositivos existentes. A tecnologia foi projetada para funcionar com a grande maioria dos smartphones com capacidade LTE (4G) já em uso, sem a necessidade de qualquer modificação no hardware do telefone, no firmware do sistema operacional ou na instalação de aplicativos especiais.

Para o usuário final, a experiência é de total transparência. O telefone, ao perder o sinal da rede terrestre de sua operadora, automaticamente busca e se conecta ao sinal do satélite, que se apresenta como uma rede de roaming parceira. Em muitos aparelhos, um ícone específico (como “SAT” ou “T-Mobile SpaceX”) aparece na barra de status para indicar a conexão via satélite.

A escolha inicial pela tecnologia LTE (4G) em vez da 5G é deliberada e estratégica. Os sinais LTE, especialmente em bandas de frequência mais baixas, possuem um alcance de propagação maior do que os sinais 5G de alta frequência, o que é fundamental para estabelecer uma conexão robusta entre um dispositivo de baixa potência no solo e um satélite a centenas de quilômetros de altitude. Isso garante que a maior base instalada de telefones possa se beneficiar do serviço desde o primeiro dia.

Cronograma de Implementação de Serviços: Uma Abordagem Faseada

A Starlink adotou uma estratégia de implementação gradual para o Direct to Cell, começando com serviços de baixa largura de banda e evoluindo progressivamente para aplicações mais exigentes. Esse cronograma faseado permite à empresa escalar sua constelação de satélites D2C e refinar a tecnologia em etapas controladas.

  • Fase 1 (Iniciada em 2024): Mensagens (Texto e Multimídia) O serviço começou com foco em mensagens de texto (SMS) e, posteriormente, mensagens de multimídia (MMS), que permitem o envio de imagens e clipes de áudio. Os primeiros testes bem-sucedidos de envio de SMS foram realizados em janeiro de 2024, apenas seis dias após o lançamento dos primeiros seis satélites D2C, utilizando o espectro da parceira T-Mobile. Este serviço inicial também inclui a capacidade de compartilhar a localização e enviar mensagens para serviços de emergência, como o 911 nos EUA.
  • Fase 2 (A partir de 2025): Voz, Dados e Internet das Coisas (IoT) A próxima etapa no roteiro da Starlink é a introdução de chamadas de voz e acesso a dados para navegação na internet e uso de aplicativos. Testes de chamadas de vídeo via WhatsApp e X (antigo Twitter) já foram realizados com sucesso, validando a capacidade técnica da rede. Além disso, a partir de 2025, o serviço será estendido para conectar dispositivos de Internet das Coisas (IoT) que utilizam padrões LTE comuns, como CAT-1, CAT-1 Bis e CAT-4. Isso tem um potencial imenso para indústrias como agricultura, logística e monitoramento ambiental, que dependem de sensores em locais remotos.

Essa abordagem faseada garante que, à medida que a SpaceX lança mais satélites D2C — inicialmente com o foguete Falcon 9 e, posteriormente, com a Starship, que tem maior capacidade —, a rede se torne progressivamente mais robusta para suportar os serviços de maior demanda de dados.

O Modelo de Negócio: A Parceria como Pilar Indispensável

A estratégia de entrada no mercado da Starlink para o serviço Direct to Cell é fundamentalmente diferente de seu negócio de banda larga residencial. Em vez de competir diretamente com as operadoras de telefonia móvel (MNOs), a SpaceX posiciona a Starlink como uma parceira de atacado (B2B), criando um ecossistema de colaboração em que a parceria não é apenas vantajosa, mas tecnicamente indispensável para a operação do serviço.

Starlink como Parceiro de Roaming, Não como Concorrente Direto

O modelo de negócio do D2C não visa substituir as operadoras de celular, mas sim complementar suas redes. A Starlink se integra à infraestrutura da MNO parceira de forma análoga a um “parceiro de roaming padrão”. Na prática, quando um cliente de uma operadora parceira, como a T-Mobile nos EUA, viaja para uma área sem cobertura de torres terrestres — seja uma região rural, um parque nacional ou uma área marítima costeira —, seu smartphone perde o sinal da rede convencional e, automaticamente, busca e se conecta à rede de satélites da Starlink.

Para o usuário, a transição é projetada para ser contínua e sem necessidade de intervenção manual. O aparelho simplesmente exibe um indicador de que está conectado via satélite e os serviços básicos, como mensagens, continuam a funcionar. Esse modelo permite que a MNO anuncie uma cobertura quase onipresente, eliminando as frustrantes “zonas mortas” e oferecendo um diferencial competitivo significativo.

O Imperativo do Espectro: A Chave para a Operação

A razão técnica fundamental pela qual a parceria com MNOs é obrigatória reside na gestão do espectro de radiofrequência. O serviço Direct to Cell não opera em uma faixa de frequência exclusiva da Starlink. Em vez disso, ele utiliza as faixas de espectro celular que já foram licenciadas para as operadoras de telefonia móvel pelas agências reguladoras de cada país.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a T-Mobile alocou uma porção de seu espectro de banda média (especificamente a Banda 2, em 1900 MHz) para ser usada pelo serviço D2C da Starlink. Os satélites da Starlink são equipados para transmitir e receber sinais nessas frequências específicas, atuando como uma extensão da rede da T-Mobile no espaço.

No contexto brasileiro, isso significa que para o Direct to Cell funcionar, a Starlink precisaria firmar um acordo com a Vivo, a Claro ou a TIM para poder utilizar uma fatia do espectro que essas empresas adquiriram, a custos de bilhões de reais, nos leilões promovidos pela Anatel, como o leilão do 5G. Sem o acesso legal e contratual a esse espectro licenciado, a operação do serviço no Brasil é técnica e juridicamente impossível. Essa dependência do espectro da MNO é o pilar central do modelo de negócio e a principal razão pela qual a Starlink não pode simplesmente “ligar” o serviço no país de forma unilateral.

Desmistificando a “Internet Gratuita”: O Estudo de Caso da T-Mobile

A disseminação de rumores sobre uma suposta “internet via satélite gratuita” da Starlink pode ser completamente desmistificada ao se analisar o modelo de precificação real implementado pela T-Mobile nos EUA, que serve como um provável modelo para a expansão global:

  • Inclusão em Planos Premium: O serviço, comercializado como “T-Satellite”, é oferecido como um benefício gratuito, sem custo adicional, para clientes dos planos pós-pagos mais caros da operadora, como o “Go5G Next” e o “Experience Beyond”. Para esses clientes, o serviço funciona como um poderoso argumento de valor para justificar o preço mais elevado do plano e como uma ferramenta para aumentar a fidelidade e reduzir a taxa de cancelamento (churn).
  • Complemento Pago (Add-on): Para clientes de planos mais básicos da T-Mobile, ou mesmo para clientes de operadoras concorrentes como AT&T e Verizon, o serviço T-Satellite está disponível como um complemento mensal pago. O custo é de US$ 10 por mês, permitindo que qualquer pessoa com um telefone compatível possa contratar o serviço de conectividade via satélite através de um eSIM secundário.

Fica claro, portanto, que o modelo de monetização do Direct to Cell não se baseia em gratuidade, mas sim na criação de um novo e valioso fluxo de receita tanto para a Starlink quanto para suas MNOs parceiras. A estratégia é monetizar a “paz de espírito” e a segurança de ter conectividade garantida em qualquer lugar.

Para o Brasil, a implicação é direta. A estrutura de preços provavelmente seguiria um padrão semelhante. O serviço D2C seria uma ferramenta estratégica para as operadoras brasileiras. Elas poderiam usá-lo para agregar valor e justificar os preços de seus planos pós-pagos mais caros, oferecendo um diferencial competitivo claro, como “a única operadora com cobertura em 100% do território nacional”. Ao mesmo tempo, poderiam gerar uma receita incremental significativa com a venda do serviço como um Serviço de Valor Adicionado (SVA) para a vasta base de clientes de planos pré-pagos ou intermediários, compartilhando os lucros desse novo mercado com a Starlink.

O Obstáculo Brasileiro: Barreiras Regulatórias e Comerciais para o D2C

A ausência do serviço Direct to Cell da Starlink no Brasil, apesar do imenso potencial de mercado, não se deve a uma falha tecnológica, mas sim a um conjunto de barreiras regulatórias e, principalmente, comerciais. A entrada em operação depende de uma complexa dança entre a SpaceX, as operadoras de telefonia móvel brasileiras e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que atua como a entidade reguladora e fiscalizadora do setor.

A Anatel como Guardiã do Setor de Telecomunicações

A operação de qualquer serviço de telecomunicações no Brasil é estritamente regulada pela Anatel, com base na Lei Geral de Telecomunicações (LGT – Lei nº 9.472/97). Para o Direct to Cell, duas exigências regulatórias são cruciais e intransponíveis:

  1. Exigência de Licenciamento (Outorga): A prestação do Serviço Móvel Pessoal (SMP) — o serviço de telefonia celular — exige que a empresa possua uma outorga específica concedida pela Anatel. A Starlink, embora autorizada a oferecer serviços de banda larga via satélite (Serviço de Comunicação Multimídia – SCM), não detém uma licença de SMP no Brasil. Consequentemente, a única via legal para que o serviço D2C seja oferecido é por meio de uma parceria com uma operadora já licenciada (Vivo, Claro ou TIM). Nesse modelo, a operadora brasileira seria a prestadora do serviço perante o consumidor e a Anatel, utilizando a rede de satélites da Starlink como uma infraestrutura de roaming para estender sua cobertura.
  2. Controle do Espectro de Radiofrequência: O espectro utilizado para a telefonia móvel é um recurso público, finito e valioso, cujo direito de uso é leiloado pela Anatel por bilhões de reais. As faixas de frequência são concedidas às operadoras vencedoras por um período determinado. A Starlink não pode, por conta própria, transmitir sinais nas faixas de 700 MHz, 1.8 GHz, 2.1 GHz, ou outras bandas móveis no Brasil. Ela depende inteiramente de um acordo comercial com a detentora da licença daquela faixa de frequência para poder utilizá-la em seu serviço D2C. Sem esse acordo, qualquer transmissão seria ilegal e causaria interferência prejudicial nas redes existentes.

O “Sandbox Regulatório”: Uma Porta Aberta, Mas Ignorada pela Starlink

Reconhecendo o potencial transformador das tecnologias Direct-to-Device (D2D), a Anatel demonstrou uma postura proativa. Em março de 2024, o Conselho Diretor da agência aprovou a criação de um “Sandbox Regulatório” específico para D2D. Este instrumento jurídico permite a suspensão temporária de certas exigências regulatórias, criando um ambiente controlado para que empresas possam testar tecnologias e modelos de negócio inovadores por um período de até dois anos, sob a supervisão da agência.

A criação desse sandbox foi diretamente motivada por pedidos de interesse da Claro e da TIM, que manifestaram a intenção de realizar testes da tecnologia D2D em parceria com a AST SpaceMobile, uma das principais concorrentes da Starlink. Isso sinaliza que a Anatel está não apenas ciente, mas também disposta a facilitar a chegada dessa nova classe de serviços ao país.

Contudo, e este é um ponto crucial, até a data deste relatório, nenhuma empresa — seja a Starlink de forma independente ou uma operadora brasileira em seu nome — apresentou à Anatel um pedido para ingressar no sandbox regulatório para testar a tecnologia Direct to Cell da Starlink. A porta para a experimentação está aberta, mas a Starlink e seus potenciais parceiros ainda não a atravessaram.

A “Frustração” da Anatel e a Verdadeira Natureza do Impasse

A inércia em relação ao serviço da Starlink levou a manifestações públicas de figuras da própria agência reguladora. Em um evento do setor, um conselheiro da Anatel expressou “frustração” com a falta de progresso no sandbox para D2D, notando que, embora a viabilidade técnica da solução já tenha sido comprovada em testes internacionais, os projetos concretos no Brasil não avançaram.

Essa declaração é reveladora e aponta para a verdadeira natureza do impasse. O principal obstáculo para a chegada do D2C da Starlink ao Brasil não é a rigidez regulatória, mas sim uma complexa hesitação de natureza estratégica e comercial por parte das operadoras brasileiras. A sequência de eventos é clara: a Anatel, antecipando a inovação, cria um ambiente de testes flexível (o sandbox). Os concorrentes da Starlink, como a ASTS, utilizam essa abertura para formalizar seus planos de teste com a Claro e a TIM. A Starlink, por sua vez, permanece em silêncio no front regulatório brasileiro.

A análise sugere que o gargalo está nas salas de reunião das operadoras, não nos corredores da Anatel. As MNOs brasileiras enfrentam um dilema estratégico. Por um lado, a tecnologia D2D é extremamente atraente para um país com as dimensões e os “buracos” de cobertura do Brasil; seria um poderoso diferencial competitivo. Por outro lado, firmar uma parceria de longo prazo com um player global disruptivo e poderoso como a Starlink envolve riscos. Existe o receio de “criar um Cavalo de Troia”, ou seja, de ceder espectro e acesso a clientes para uma empresa que, no futuro, poderia evoluir para se tornar uma concorrente direta. As operadoras podem estar avaliando cuidadosamente qual parceiro de satélite (Starlink, ASTS, Lynk, etc.) oferece a melhor combinação de tecnologia, modelo de negócio e, crucialmente, o menor risco de canibalização de suas receitas futuras.

A Sombra Político-Geopolítica

Embora o obstáculo principal seja comercial, não se pode ignorar o pano de fundo político. Os embates públicos entre Elon Musk, figura central da SpaceX e da Starlink, e membros do Judiciário brasileiro em relação à moderação de conteúdo na plataforma X (antigo Twitter) geraram tensões significativas. Em um momento de crise, autoridades brasileiras chegaram a tratar X e Starlink como parte do mesmo grupo econômico, resultando no congelamento de ativos da empresa de satélites para forçar o pagamento de multas devidas pela rede social. Embora a situação tenha sido resolvida, o episódio destaca a relação politicamente sensível entre as empresas de Musk e as instituições brasileiras. Esse risco reputacional e político, ainda que latente, pode ser um fator adicional de cautela para as operadoras brasileiras ao considerarem uma parceria estratégica de longo prazo.

A Arena Competitiva: Os Rivais da Starlink Já Estão no Jogo no Brasil

A Starlink não está planejando entrar em um mercado desocupado. Pelo contrário, a corrida pela conectividade direta via satélite no Brasil já começou, e alguns de seus principais concorrentes globais já estabeleceram posições estratégicas importantes, firmando parcerias com as mesmas operadoras que a Starlink precisaria para lançar seu serviço.

AST SpaceMobile: O Concorrente Direto e Mais Avançado no Brasil

A AST SpaceMobile (ASTS) emerge como a principal rival da Starlink no segmento D2D, com uma abordagem tecnológica e um modelo de negócios que se mostraram atraentes para as operadoras brasileiras.

  • Tecnologia e Estratégia: Diferente da Starlink, que adaptou sua constelação existente para incluir satélites D2C, a ASTS está construindo uma rede projetada desde o início e exclusivamente para banda larga celular a partir do espaço. Seus satélites, como o protótipo BlueWalker 3 e os futuros BlueBirds, são significativamente maiores e mais potentes, com antenas de phased array que podem chegar a centenas de metros quadrados. A empresa alega que cada um de seus satélites tem uma capacidade de banda muito superior à dos satélites D2C da Starlink, visando oferecer não apenas mensagens, mas uma experiência de banda larga 4G/5G completa, incluindo voz e dados de alta velocidade.
  • Modelo de Negócio Alinhado: O modelo de negócios da ASTS é puramente de atacado (B2B), sem qualquer oferta direta ao consumidor. A empresa propõe uma parceria clara com as MNOs, baseada em uma divisão de receita de 50/50, na qual a operadora promove o serviço, gerencia o faturamento e o atendimento, enquanto a ASTS fornece a infraestrutura de rede via satélite. Este modelo elimina o temor de concorrência direta e alinha os interesses de ambas as partes.
  • Parcerias Estratégicas no Brasil: O avanço mais significativo da ASTS no mercado brasileiro é a formalização de parcerias. A empresa já possui Memorandos de Entendimento (MoUs) e acordos de teste com a TIM e a Claro, duas das três maiores operadoras do país. Foram justamente os pedidos de interesse dessas duas empresas em testar a tecnologia da ASTS que levaram a Anatel a criar o sandbox regulatório. Isso coloca a ASTS em uma posição de vanguarda, com um caminho regulatório e comercial já em andamento.

Outros Competidores Relevantes

O cenário competitivo não se resume a uma disputa entre Starlink e ASTS. Outros players globais também estão de olho no mercado brasileiro:

  • Lynk Global: Considerada uma das pioneiras na tecnologia de “torre de celular no espaço”, a Lynk também foca em um modelo de parceria com MNOs. A empresa já realizou testes bem-sucedidos de seu serviço D2D em colaboração com a Claro no Brasil, demonstrando a funcionalidade de sua solução no país.
  • Viasat: Uma gigante estabelecida no mercado de satélites, a Viasat também está desenvolvendo sua própria tecnologia D2D. A empresa já realizou uma demonstração técnica de sua solução em L-band no Brasil e declarou publicamente que está em busca ativa de parcerias com operadoras móveis locais para escalar seus negócios no país.
  • Apple/Globalstar: Embora seja um serviço de nicho, o “SOS de Emergência via Satélite”, disponível em iPhones 14 e posteriores, representa uma forma de concorrência. Utilizando a rede de satélites da Globalstar, o serviço permite o envio de mensagens de emergência em áreas sem cobertura. Embora a página de suporte da Apple não liste oficialmente o Brasil como um país com disponibilidade , a presença da tecnologia nos aparelhos vendidos no mercado cria uma familiaridade do consumidor com o conceito de comunicação via satélite.

Panorama Competitivo do D2D no Brasil

A complexidade da arena competitiva pode ser melhor visualizada na tabela abaixo. Ela sintetiza por que a entrada da Starlink no mercado brasileiro de D2D não é um fato consumado, destacando a vantagem estratégica que seus concorrentes já construíram ao estabelecerem relações com as operadoras locais. A discussão, portanto, evolui de um simples “Starlink contra o Brasil” para uma disputa mais acirrada: “Starlink versus ASTS, Lynk e Viasat pela parceria com as MNOs brasileiras”.

Provedor de Satélite Tecnologia / Foco do Serviço Parceiros MNO no Brasil (Status) Status Regulatório (Anatel) Modelo de Negócio
Starlink (SpaceX) LTE (4G) para Texto, depois Voz/Dados/IoT. Requer satélites D2C específicos. Nenhum anunciado. Potencial parceiro: Vivo. Nenhuma solicitação de teste no Sandbox Regulatório. Parceria de Roaming/Espectro.
AST SpaceMobile Banda larga 4G/5G completa (Voz, Dados, Vídeo). Satélites de grande porte. TIM (MoU) , Claro (Parceria de Teste). Empresas solicitaram e motivaram a criação do Sandbox Regulatório. Atacado (B2B) com divisão de receita 50/50.
Lynk Global “Torre de celular no espaço” para SMS, dados e voz. Claro (Teste bem-sucedido). Testes realizados sob licenças experimentais. Parceria com MNOs.
Viasat D2D em L-band para smartphones e IoT. Buscando parceiros ativamente no Brasil. Demonstração técnica realizada no Brasil. Parceria com MNOs.

Esta tabela deixa claro que a Starlink está, no momento, atrasada na corrida pelas parcerias estratégicas que são a chave para destravar o mercado brasileiro de D2D.

Análise de Impacto: O Potencial Transformador do D2C para o Brasil

A eventual chegada de serviços Direct-to-Device (D2D) ao Brasil, seja pela Starlink ou por seus concorrentes, carrega um potencial transformador que transcende a simples conveniência de ter sinal de celular em locais remotos. A tecnologia tem a capacidade de gerar impactos socioeconômicos profundos em setores vitais para a economia brasileira, endereçando um dos maiores gargalos estruturais do país: a falta de conectividade em seu vasto território.

Conectando os Desconectados: A Dimensão da Oportunidade

O Brasil enfrenta um expressivo “apagão digital” geográfico. Dados da Anatel e de análises de mercado indicam que apenas uma pequena fração do território nacional, entre 18% e 20%, possui cobertura de redes celulares terrestres. Isso significa que mais de 80% do país, incluindo a maior parte da Amazônia, extensas áreas do Centro-Oeste e do Nordeste, além de milhares de quilômetros de rodovias, são “zonas mortas” de conectividade.

Enquanto 99,8% da população urbana brasileira tem acesso à cobertura móvel, esse número cai para pouco mais de 54% entre os habitantes de áreas rurais. A tecnologia D2D surge como uma solução economicamente viável para universalizar o acesso. Em vez de exigir o altíssimo investimento na construção de milhares de novas torres de celular em regiões de baixa densidade populacional e retorno financeiro incerto, o D2D complementa a infraestrutura existente, estendendo a cobertura de forma custo-efetiva e imediata a qualquer ponto sob o céu.

Revolucionando Setores-Chave da Economia Brasileira

O impacto da conectividade universal via satélite pode ser um catalisador para o desenvolvimento de várias áreas estratégicas:

  • Agronegócio: Este é, indiscutivelmente, o setor com o maior potencial de transformação. A conectividade é o principal gargalo que impede a adoção em larga escala da Agricultura 4.0, que se baseia em Internet das Coisas (IoT), automação, Big Data e inteligência artificial. Com o D2C, torna-se possível o monitoramento em tempo real de safras por meio de sensores de umidade do solo, o rastreamento de gado com coleiras conectadas, a operação remota de maquinário agrícola autônomo e a coleta de dados climáticos precisos em toda a extensão da propriedade, não apenas na sede da fazenda. Estudos já quantificam esse impacto, mostrando que a expansão da conectividade no campo está diretamente correlacionada a ganhos de produtividade e a um aumento significativo no Valor Bruto da Produção (VBP) e no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio.
  • Saúde e Educação: A telemedicina e a educação a distância são serviços essenciais que enfrentam a barreira da conectividade para chegar às populações mais isoladas, como comunidades ribeirinhas na Amazônia e vilarejos no sertão nordestino. O D2C pode viabilizar teleconsultas, o envio de resultados de exames a partir de postos de saúde remotos (telediagnóstico) e o acesso a conteúdo educacional de qualidade para escolas que hoje estão offline, ajudando a reduzir desigualdades históricas.
  • Logística e Segurança Pública: A falta de cobertura em grande parte da malha rodoviária brasileira é um grande desafio para o setor de transportes e para a segurança. O D2C permitiria o rastreamento contínuo de cargas, a comunicação constante com motoristas e a capacidade de solicitar ajuda em caso de acidentes ou emergências em qualquer ponto de uma rodovia federal ou estadual. Para as forças de segurança, a tecnologia garante a comunicação em operações em áreas de fronteira, remotas ou em situações de desastre onde a infraestrutura terrestre pode ser danificada.
  • Meio Ambiente e Defesa: A tecnologia é uma ferramenta poderosa para o monitoramento ambiental, permitindo a transmissão em tempo real de dados de sensores que detectam desmatamento ou focos de incêndio. Além disso, pode ser utilizada para combater atividades ilegais, como o garimpo, onde a internet via satélite da Starlink já é paradoxalmente utilizada pelos próprios criminosos para coordenar suas operações e que agora é alvo de acordos para coibir seu uso ilícito.

Projeção de Impacto Econômico da Conectividade Rural

A promessa do D2C pode ser traduzida em números concretos. Estudos de instituições como a União Internacional de Telecomunicações (UIT), o Ministério da Agricultura e a Embrapa quantificam o valor econômico da conectividade, permitindo projetar o impacto potencial da universalização do acesso que o D2C pode proporcionar. A tabela a seguir sintetiza esses dados, transformando o benefício tecnológico em um impacto econômico tangível.

Métrica de Impacto Fonte do Estudo Dado Quantitativo Implicação para o D2C
Aumento do PIB per capita por 10% de aumento na penetração de banda larga móvel UIT (Estudo Global) 2.5% a 2.8% O D2C, ao expandir a banda larga para milhões de brasileiros em áreas rurais, pode ter um efeito multiplicador direto no PIB per capita nacional.
Impacto da expansão da internet no VBP da Agropecuária Brasileira (Cenário 2) Ministério da Agricultura (Estudo de 2017) Aumento de até R$ 44,64 bilhões (9.6% do VBP da época) Demonstra o potencial econômico direto da universalização da conectividade no campo, um dos principais mercados para o D2C.
Aumento do PIB com 10% de aumento na produtividade (soja, milho, cana) Estudo Embrapa/Sebrae/Inpe Aumento de R$ 11 bilhões no PIB e geração de 450 mil empregos. A conectividade D2C é um habilitador chave para as tecnologias de precisão que geram esses ganhos de produtividade.
População rural sem acesso à cobertura celular BTG Pactual / Anatel 46% da população rural (vs. 0,2% da urbana) O D2C tem um mercado endereçável imediato de dezenas de milhões de pessoas e empresas que atualmente são mal servidas ou não servidas.

Esses números ilustram que a implementação do D2C no Brasil não é apenas uma questão de avanço tecnológico, mas uma alavanca estratégica para o desenvolvimento econômico e social do país.

Perspectivas e Recomendações Estratégicas: O Caminho a Seguir para o Direct to Cell no Brasil

O futuro do serviço Direct to Cell da Starlink no Brasil é uma tapeçaria complexa de possibilidades, dependente das decisões estratégicas das operadoras móveis, da evolução do cenário competitivo e do contínuo desenvolvimento do arcabouço regulatório da Anatel. A questão não é se a conectividade direta via satélite chegará ao consumidor brasileiro, mas quando, por meio de quem e em que formato.

Análise de Cenários Futuros para a Starlink no Brasil

Três cenários principais podem ser delineados para a trajetória do D2C da Starlink no mercado brasileiro:

  • Cenário 1 (Mais Provável): Parceria Estratégica com uma MNO. Este é o caminho mais lógico e viável. Considerando que Claro e TIM já têm acordos avançados com a concorrente AST SpaceMobile , a Vivo emerge como a parceira natural e mais provável para a Starlink. Neste cenário, a Vivo e a Starlink firmariam um acordo comercial, submeteriam um plano de testes ao sandbox regulatório da Anatel e, após um período de experimentação e homologação, lançariam o serviço comercialmente. Este processo, no entanto, é demorado.
  • Cenário 2 (Improvável): Tentativa de Rota Regulatória Direta. Neste cenário, a Starlink poderia tentar uma abordagem mais agressiva, buscando obter sua própria licença para o Serviço Móvel Pessoal (SMP) ou fazendo lobby por uma mudança regulatória que permitisse o uso de espectro não licenciado ou de uma faixa dedicada para serviços D2D. Esta via enfrenta enormes barreiras legais, políticas e comerciais, pois desafiaria o modelo estabelecido de leilões de espectro e o poder das operadoras incumbentes. É, portanto, um cenário de baixa probabilidade de sucesso no curto e médio prazo.
  • Cenário 3 (Status Quo de Curto Prazo): Impasse Comercial Contínuo. A hesitação estratégica das operadoras móveis pode persistir. As MNOs podem optar por aguardar a maturação das diferentes tecnologias D2D (Starlink, ASTS, etc.) e a consolidação do mercado antes de se comprometerem com um parceiro de longo prazo. Neste caso, a Starlink poderia focar em outros mercados globais onde as parcerias são mais fáceis de estabelecer, enquanto seus concorrentes, ASTS e Lynk, avançam com seus testes no Brasil, consolidando suas posições e potencialmente deixando a Starlink para trás na disputa pelo mercado brasileiro.

Projeção de Cronograma e Evolução Regulatória

Com base no cenário mais provável (Cenário 1), um lançamento comercial em larga escala do Direct to Cell da Starlink no Brasil não deve ser esperado antes do período de 2026-2027. Esta projeção leva em conta as múltiplas etapas necessárias:

  1. Negociação do Acordo Comercial: Meses de negociação entre Starlink e a operadora parceira.
  2. Período no Sandbox Regulatório: Após a solicitação, os testes podem durar até dois anos, conforme permitido pela Anatel.
  3. Homologação e Integração: Após os testes, o serviço precisa ser homologado e a integração técnica e comercial com os sistemas da operadora precisa ser finalizada.

Paralelamente, a Anatel continuará a construir o futuro regulatório para as Redes Não Terrestres (NTN), categoria na qual o D2D se enquadra. A agência já demonstrou estar ativamente trabalhando no tema, através de iniciativas como:

  • Consulta Pública nº 48/2024: Propondo requisitos técnicos para a certificação de equipamentos que usam novas tecnologias como 5G NB-NTN e RedCap, essenciais para IoT via satélite.
  • Tomada de Subsídios nº 12/2024: Coletando contribuições da sociedade e do setor sobre a sustentabilidade de longo prazo do uso de órbitas e espectro, um tema crucial com o advento de mega constelações.

Essas ações indicam que, quando os acordos comerciais forem firmados, a Anatel terá um arcabouço regulatório mais maduro para acomodar esses novos serviços.

Recomendações Finais e Conclusão

Diante do cenário analisado, algumas recomendações estratégicas podem ser traçadas para os diferentes atores envolvidos:

  • Para Consumidores e Empresas: A mensagem é de otimismo cauteloso. A conectividade direta via satélite é uma revolução tecnológica que está a caminho e que trará benefícios imensos, especialmente para quem vive ou atua em áreas rurais. No entanto, sua disponibilidade em massa não é imediata. A recomendação é monitorar os anúncios oficiais das operadoras de telefonia móvel (Vivo, Claro e TIM), pois elas serão as verdadeiras portas de entrada para este serviço, e não a Starlink diretamente.
  • Para as Operadoras Brasileiras (MNOs): A inação representa um risco estratégico significativo. Embora a escolha de um parceiro D2D seja uma decisão complexa e de longo prazo, a demora pode resultar na perda de uma vantagem competitiva crucial para o concorrente que se mover primeiro. A análise deve ponderar o poder de marca global e a capacidade de lançamento em escala da Starlink contra o modelo de negócio mais alinhado (divisão de receita) e os avanços já concretizados no Brasil pela AST SpaceMobile.
  • Para a Starlink: O caminho para o vasto e promissor mercado brasileiro passa, inevitavelmente, por uma parceria com uma MNO local. A estratégia mais eficaz seria focar os esforços na negociação de um acordo comercial, provavelmente com a Vivo, e, em conjunto, submeter uma proposta formal para ingressar no sandbox regulatório da Anatel. Este seria um sinal claro de compromisso com o mercado brasileiro e o primeiro passo necessário para iniciar o longo, mas indispensável, processo de aprovação.

Conclusão Final: O serviço Direct to Cell da Starlink representa uma fronteira tecnológica com o poder de catalisar uma nova onda de desenvolvimento socioeconômico no Brasil, fechando o abismo digital que ainda isola milhões de cidadãos e limita o potencial de setores inteiros da economia. No entanto, a jornada desta tecnologia da órbita terrestre para o bolso do consumidor brasileiro não será uma linha reta. Será, antes, o resultado de uma complexa negociação que se desenrolará nos campos da estratégia comercial, da regulação proativa e de uma competição acirrada, uma arena onde os primeiros e importantes movimentos já foram feitos pelos rivais da Starlink. O futuro da conectividade total no Brasil está sendo decidido agora, não no espaço, mas nas salas de reunião.

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